04/07/2014

Dia cinco, eis a Holanda!

Como precaução deixámos tudo preparado para uma noite molhada... e fizemos bem. Ao acordar a noite tinha sido de chuva (será que não nos dá descanso? não era suposto ser Verão?) e a CBF estava lavada dos poucos mosquitos que tinham resistido às constantes molhas. 
Tínhamos acordado tão cedo que nem mesmo a recepção estava aberta... óptimo! O percurso seria mais longo que de ontem, queríamos chegar a Haarlem hoje! No entanto não estávamos só nós a mexer (e a arrumar a trouxa), de uma caravana próxima aproximou-se uma senhora trazendo dois copos de plástico, falando em inglês, deu-nos os bons dias e ofereceu-nos o primeiro café do dia (diz que tinha feito um pote de café em vez de fazer uma caneca), acrescentando ainda, depois de agradecermos, que tinha começado os passeios dela também de mota e que agora já andava assim (apontando para o a bicicleta, o carro, a caravana, o avançado de caravana... ) partindo do seu país natal, a Holanda. Não pude deixar de mandar um olhar cúmplice à minha companheira dizendo... nem penses que me converto ao caravanismo! Se não cabe na mota, é porque não vale a pena levarmos! Fiquei com a sensação que, por entre o sorriso, ela sentia falta do secador com o difusor para os caracóis que não trouxemos...
Verifiquei o nível do óleo, o nível do refrigerante e o estado das pastilhas de travão traseiras (trazia um par extra por recomendação dos indivíduos da casa de pneus) e fomos até ao portão onde a senhora holandesa era a responsável pela abertura do parque... arrancámos na nossa viagem até... ao fundo da rua, passando a ponte sobre o L'Écorce onde parámos para tomar mais um pequeno-almoço à francesa. Aproveitámos para perguntar a direcção para Châlons-en-Champagne na tabacaria ao lado... mas o senhor tinha sérias dificuldades em se fazer entender para o meu parco Francês tendo eu ficado com uma ideia muito geral da direcção a tomar (esquerda ou direita... moeda ao ar?). Junto à mota, enquanto falávamos da dúvida sobre o início do percurso, chega-se a nós um casal, o rapaz estava na tabacaria quando entrei, dizendo que a rapariga sabia inglês, ele sabia o caminho, ela iria traduzir... e funcionou! Muitos agradecimentos e acenos e lá fomos pela D677 fora sem dramas nem dúvidas.
Passámos Châlons-en-Champagne sempre na D677, há nesta zona, ao que me parecia, uma forte componente militar (o Camp de Mourmelon) o que verifiquei, após parármos em Suippes (mais uma localidade bonita com um ar pacato), quando passámos junto a alguns cemitérios e junto ao Le Monument aux morts des Armées de Champagne, uma cripta onde estão os restos mortais de 10 mil homens que tombaram na primeira guerra mundial... mesmo nunca tendo sido militar, parei... desliguei o motor e fiquei em silêncio por instantes, há algo imenso de dor nestes locais, dor de quem combate, de quem morre e de quem ficou para trás chorando aqueles que perdeu...
Prestada a homenagem, seguimos caminho até ao final da D677 e entrando na D987 que ruma a norte até à A34 em direcção a Charleville-Mézières onde tomámos a N43 na qual volvemos a norte na N51 em direcção à fronteira onde a N51 se converte em N5, não tardou a sentir o telemóvel vibrar no bolso informando da entrada noutro país, acabávamos de entrar na Bélgica e parámos logo à entrada, em Brûly.
Se o percurso até Charleroi pela N5 e pela E420 dava um ar agradável à Bélgica, com muitos espaços verdes e espaço para circular à vontade, esse ar depressa se desvaneceu assim que se chegou à sequência de sucessivas auto-estradas que passam à margem das cidades de Bruxelas e de Antuérpia em direcção a Breda, já em solo holandês... não fosse o treino diário da marginal, A5 e 2ª circular e provavelmente demoraria dois dias a passar todo aquele trânsito! Que caos! E basicamente, é isto que conheço da Bélgica, trânsito de cortar os pulsos.
Cruzando a fronteira e entrando na Holanda, a sequência de auto-estradas manteve-se até Haarlem, com diferença clara na quantidade de faixas disponíveis e do trânsito menos caótico, bem como uma paisagem praticamente plana com um ou outro moinho a marcar diferença. Os preços dos combustíveis eram assustadores e a necessidade obrigou-me a abastecer (tinha esperança de não precisar de abastecer mais nenhuma vez por aqui) e aproveitámos para tentar achar a morada do destino nos telemóveis e evitar andar muito às voltas.
De facto não demos com sítio certo, o que de certa forma é usual quando não se navega por GPS, mas ficámos perto, junto a uma pizzaria de referência e foram-nos buscar de bicicleta... típico!
Nesta fase comecei a temer pela minha integridade física, nunca fui atropelado, mas estava convicto de que, não sairia da Holanda sem ser abalroado por uma bicicleta!
Cindo dias após a partida, cá estávamos na Holanda... o resto, os restantes dias até segunda-feira seguinte, foram, como se costuma dizer, paisagem...

























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